Entrevista - Mario Carlón - Foto: Reprodução

PERGUNTA: Segundo as suas pesquisas, como as pessoas (receptores de mídias) – aquelas que estão na internet via WhatsApp, Facebook etc – ou seja, o que o senhor chama de coletivos, apreendem a noção de midiatização? Qual o grau de compreensão que elas têm de fenômenos tão complexos que não se apresentam mais através dos “mass media”, mas via redes digitais?

RESPOSTA: É uma pergunta tão complexa quanto interessante. Entendo que podemos seguir utilizando nos estudos sobre redes sociais midiáticas as noções sociológicas clássicas, como mídia, instituições, grupos e indivíduos. Com a complexidade de que podem ser pensadas em relação ao desenvolvimento do machinismo e, acima de tudo, indispensáveis para abordar fenômenos midiatizados nos quais grupos e indivíduos intervêm. Como eles apreendem a noção de midiatização? A noção está se expandindo, mas é provável que por agora só tomem contato com ela os indivíduos que se encontram institucionalizados, em estruturas de ensino específicas. Com relação aos processos, o fato de os indivíduos terem passado de estarem localizados em reconhecimento a encontrarem-se em complexos e dinâmicos processos de produção/reconhecimento tem feito com que incorporem e desenvolvam vários conhecimentos individuais, colaborativos-amadores ou institucionalizados sobre a produção e a maneira que se desenvolvem as trocas discursivas midiatizadas. No seio desses processos, que são complexos e múltiplos, os indivíduos e os coletivos se educaram e se auto-educaram a si mesmos acerca do uso de múltiplos processos de produção de sentido. Por exemplo, de “filtros”, como os fornecidos pelo Snapchat para intervir nas imagens, ou de operações que historicamente têm sua gênese no campo da arte contemporânea, como a apropriação (de imagens de outros) e a intervenção, a justaposição, a montagem e o pastiche (sobre imagens próprias e de outros).

 

P: Diante do tema da aceleração, como o senhor vê o papel das formas de ensino e de aprendizado desenvolvidos pela escola, diante dos novos processos técnico-digitais-midiáticos? Conhece, pelas suas observações, algumas estratégias através das quais crianças e jovens estariam utilizando para aprendizado novos protocolos de comunicação?

R: A aceleração do tempo e dos processos históricos, em parte produtos da midiatização, está transformando paradigmas teóricos baseados no presentismo, conceituais e práticos da era dos meios massivos, quer dizer, modernos e pós-modernos. Na era contemporânea, caracterizada por uma crise do tempo, por uma nova relação entre presente, passado e futuro, o presente tem ascendido como peça fundamental. Os indivíduos e os grupos, enunciadores orgânicos, enunciam desde o presente e centram sua experiência de vida cada vez mais em si mesmos. As instituições lidam cada vez com menos tempo dos indivíduos do que com outras lógicas, resistindo aos tempos tradicionais das instituições. Esses conflitos já estão presentes nas salas de aula, tanto nas escolas quanto nas universidades. Se os alunos não dispõem livremente de aparelhos como telefones e computadores na sala de aula, o conflito se manifesta quando se trata de se expor de maneira tradicional. E, se os possuem, manifestam-se com maior intensidade, na tensão entre os tempos e as marcas de poder das práticas institucionalizadas e nas lógicas egocêntricas dos indivíduos.

             

P: Como aplicaria o conceito veroniano, seja em convergência ou em divergência, nos cenários complexos de produção de conhecimentos das redes sociais?

R: Os cenários de troca nas redes sociais são extremamente complexos. E são muito mais complexos do que se costuma pensar, porque as redes sociais da mídia estão em constante interação com a mídia de massa, que não desapareceu. Nesse contexto, uma tarefa muito importante é ter uma caixa de ferramentas conceitual e analítica rica e diversificada. A digitalização coexiste com a iconicidade e a indicialidade da era dos meios de comunicação de massa (só que a digitalização tem gerado uma fraca indicialidade e um sujeito mais desconfiado), as interfaces que privilegiam a interação coexistem com dispositivos não interativos e assim por diante. Existe um processo complexo de acumulação de dispositivos e conhecimentos de tecnologia. Os indivíduos são não apenas profissionais, não apenas nas universidades, mas também cada vez mais nas escolas, porque as instituições ensinam educação sexual, ecologia, novos direitos há anos (direito à imagem e gênero: diversidade, identidade, feminismo etc.). As pessoas nas salas de aula têm suas próprias agendas que não são apenas recreativas e de consumo, e muitos professores têm dificuldade em conversar com eles. As pessoas nas salas de aula têm, como foi mostrado, novas habilidades narrativas, mas também interesses sociopolíticos que até recentemente pertenciam apenas a minorias.

 

P: Como prevê os próximos cenários de efeitos das tecnologias digitais sobre o mundo privado dos indivíduos? Acredita que essa relação público-privado pode ser regulada por legislações ou por outras formas de protocolos ou pactos (éticos) entre os indivíduos?

R: É difícil prever algo no processo de transformação dinâmico e vertiginoso em que nos encontramos. A midiatização nos transforma, mas também definimos a direção da midiatização. Por outro lado, não funcionamos como um todo, mas como inúmeros coletivos permanentemente articulados e desarticulados, exceto aqueles que constroem processos de polarização. Mas mesmo esses fenômenos são bastante instáveis. Nesse contexto, o relacionamento público / privado / íntimo é hoje tão dinâmico quanto a midiatização: está em permanente transformação. A expansão da midiatização produzida é gerenciada por todos nós hoje, pelo menos potencialmente, nos meios de comunicação. Isso produziu um novo cenário no qual devemos nos perguntar, por exemplo: o que acontece com a liberdade de expressão? A produção de conteúdo é incontrolável, mas aqueles que produzem não o fazem sob protocolos como os que por muito tempo governaram rigidamente os meios de comunicação de massa. Os usos imprevisíveis da mídia são diários: o massacre da Nova Zelândia em Christchurch, no qual mais de 50 pessoas morreram, foi transmitido pelo assassino, que era um usuário comum do Facebook, por 17 minutos sem a rede social interrompê-lo. Como controlar a produção de conteúdo de bilhões de usuários? Até agora, os algoritmos não foram projetados para esta tarefa, mas para tornar o marketing do produto mais eficaz. Além disso, é fácil concordar que, em casos como Christchurch, a liberdade de expressão deve ser limitada. Mas o que acontece com todos os outros casos? Até que ponto podemos concordar que é necessário limitar a expressão sem nos prejudicar como sociedade?

Atualmente, consideramos que a legislação decorre de muitos dos novos processos e, é claro, não orienta as diretrizes de produção de conteúdo, nem as colocadas em prática por indivíduos, que geralmente se voltam contra si mesmos. Mas isso não implica que não tenha efeito. Hoje, as opiniões são produzidas sob legislação às vezes antiga e duvidosa, mas a disseminação dessas opiniões pelas redes e pela mídia de massa também tem seus efeitos.

Vivemos um tempo de novas controvérsias: entre o direito à expressão e o direito à imagem; entre direito de expressão e direitos autorais (copyright); entre o direito à igualdade e os valores de indivíduos, grupos e instituições (como as igrejas), com base em preceitos religiosos; etc. Em todos esses conflitos, diversos atores têm algo a dizer, a defender, e as redes sociais e a mídia de massa são grandes campos de batalha de importância.

 

P: Como pretende mostrar no seu relato, durante o Pentálogo X, as interfaces entre a proposta dessa reunião científica com os ângulos e conteúdos de sua apresentação e dos problemas suscitados por suas investigações? 

R: Na minha apresentação, pretendo mostrar como a mudança no surgimento da era contemporânea e a nova midiatização e circulação de significado afetam as práticas pedagógicas. No quadro da dificuldade que esse processo implica, estou interessado em mostrar o interesse dos alunos, que têm novas competências, por uma gestão ampla e diversificada dos recursos de construção de novos universos de importância e grupos baseados em novos valores, não apenas lúdicos.

        

 

VERSIÓN EN ESPAÑOL

  

PREGUNTA: Según su investigación, ¿cómo las personas (receptores de medios), aquellos que están en Internet a través de WhatsApp, Facebook, etc., es decir, qué llaman colectivos, captan la noción de mediatización? ¿Qué comprensión tiene de fenómenos tan complejos que ya no se presentan a través de los medios de comunicación, sino a través de redes digitales?

RESPUESTA: Es una pregunta tan compleja como interesante. Entiendo que podemos seguir utilizando en los estudios sobre redes sociales mediáticas las nociones sociológicas clásicas, como medios, instituciones, colectivos e individuos. Con la complejidad de que pueden ser pensadas en relación con los desarrollos del maquinismo y, por sobre todo la vida, indispensables para abordar fenómenos mediatizados en los que intervienen colectivos e individuos. ¿Cómo aprehenden la noción mediatización?  La noción se está expandiendo, pero es probable que por ahora sólo tomen contacto con ella los individuos que se encuentran institucionalizados, en marcos de enseñanza específicos. En cuanto a los procesos, el hecho de que los individuos hayan pasado de ubicarse en reconocimiento a encontrarse en complejos y dinámicos procesos de producción/reconocimiento ha hecho que incorporen y desarrollen ya sea de modo individual, amateur-colaborativo, como institucionalizado múltiples saberes sobre la producción y el modo en que se desarrollan los intercambios discursivos mediatizados. En el seno de esos procesos, que son complejos y múltiples, los individuos y los colectivos se educaron y se auto-educaron a sí mismos acerca del uso de múltiples procesos de producción de sentido. Por ejemplo, de “filtros”, como los que brinda Snapchat para intervenir las imágenes, o de operaciones que históricamente tienen su génesis en el campo del arte contemporáneo, como la apropiación (de imágenes de otros) y la intervención, la yuxtaposición, el montaje y el pastiche (sobre imágenes propias y de otros).

 

P: Dado el tema de la aceleración, ¿cómo ve el papel de la enseñanza y el aprendizaje desarrollado por la escuela frente a los nuevos procesos de medios técnicos y digitales? ¿Conoce a partir de sus observaciones alguna estrategia mediante la cual los niños y jóvenes utilizarían nuevos protocolos de comunicación para el aprendizaje?

R: La aceleración del tiempo y de los procesos históricos, en parte producto de la mediatización, está transformando en base al presentismo los paradigmas teóricos, conceptuales y prácticos de la era de los medios masivos, es decir, modernos y posmodernos. En la era contemporánea, caracterizada por una crisis del tiempo, por una nueva relación entre presente, pasado y futuro, el presente ha ascendido como significante fundamental. Los individuos y colectivos, enunciadores orgánicos, enuncian desde un presente y han centrado su experiencia de vida cada vez más en sí mismos. Las instituciones manejan cada vez menos los tiempos de los individuos, que con otras lógicas, resisten los tiempos tradicionales de las instituciones. Estos conflictos están presentes ya en las aulas, tanto de las escuelas como de las universidades. Si los alumnos no disponen libremente de dispositivos como teléfonos y computadoras en las aulas, el conflicto se manifiesta a la hora de exponer de forma tradicional. Y si disponen de ellos se manifiestan con mayor intensidad, en la tensión entre los tiempos y las marcas de poder de prácticas institucionalizadas y las lógicas autocentradas de los individuos.

 

P: ¿Cómo aplicaría el concepto veroniano, ya sea en convergencia o divergencia, en los complejos escenarios de producción de conocimiento de las redes sociales?

R: Los escenarios de intercambio en las redes sociales son extremadamente complejos. Y son mucho más complejos de lo que habitualmente se piensa, porque las redes sociales mediáticas se encuentran en incesante interacción con los medios de comunicación masiva, que no han desaparecido. En este contexto, una tarea muy importante es tener una caja de herramientas conceptual y analítica rica y diversa. La digitalización convive con la iconicidad y la indicialidad de la era de los medios masivos (sólo que la digitalización ha generado un indicialidad débil y un sujeto más desconfiado), las interfaces que privilegian la interacción conviven con dispositivos no interactivos, etcétera. Hay un complejo proceso de acumulación de dispositivos tecnologías y saberes. Los individuos no son sólo prosumidores, no sólo en las universidades sino también cada vez más en las escuelas, porque las instituciones llevan años enseñando sobre educación sexual, ecología, nuevos derechos (derecho a la imagen y de género: a la diversidad, identitarios, feminismo, etcétera). Quienes se encuentran en las aulas tienen sus propias agendas que no son sólo las lúdicas y del consumo y a muchos docentes les cuesta dialogar con ellas. Quienes se encuentran en las aulas tienen, como se ha demostrado, nuevas competencias narrativas, pero también intereses socio-políticos que hasta hace poco sólo pertenecían a minorías.

 

P: ¿Cómo prevé los próximos escenarios de efectos de las tecnologías digitales en el mundo privado de las personas? ¿Cree que esta relación público-privada puede ser regulada por la legislación u otras formas de protocolos o pactos (éticos) entre individuos?

R: Es difícil prever algo en el dinámico y vertiginoso proceso de transformación en el que nos encontramos. La mediatización nos transforma, pero nosotros también definimos el rumbo de la mediatización. Por otra parte, no funcionamos como un todo, sino como inúmeros colectivos que se articulan y desarticulan permanentemente, excepto los que construyen los procesos de polarización. Pero incluso esos fenómenos son bastante inestables. En este contexto la relación público/privado/íntimo es tan dinámica hoy como la mediatización: se encuentra en una transformación permanente. La expansión de la mediatización produjo que todos administramos hoy, al menos potencialmente, medios de comunicación. Eso produjo un nuevo escenario en el que debemos preguntarnos, por ejemplo: ¿qué sucede con la libertad de expresión? La producción de contenidos es irrefrenable, pero quienes producen no lo hacen bajo protocolos como los que durante mucho tiempo rigieron rígidamente a los medios de comunicación masiva. Los usos imprevisibles de los medios son cotidianos: la masacre de Nueva Zelanda en Christchurch en la que murieron más de 50 personas se transmitió por el asesino, que era un internauta común de Facebook, en directo por 17 minutos sin que la red social mediática lo interrumpiera. ¿Cómo controlar la producción de contenidos de miles de millones de usuarios? Los algoritmos hasta ahora no han sido diseñados para esta tarea, sino para hacer más eficaz la comercialización de productos. Además, es fácil estar de acuerdo en que en casos como Christchurch la libertad de expresión debe ser limitada. Pero ¿qué sucede con todos los demás casos? ¿Hasta dónde podemos acordar que es necesario limitar la expresión sin dañarnos como sociedad? 

Actualmente sentimos que la legislación corre de atrás muchos de los nuevos procesos y, por supuesto, no guía las pautas de producción de contenidos, ni los puestos en práctica por los individuos, que muchas veces se vuelven contra ellos mismos. Pero eso no implica que no tenga efectos. Hoy se producen dictámenes bajo una legislación a veces antigua y dudosa, pero la divulgación de esos dictámenes por las redes y los medios masivos también tiene sus efectos. 

Vivimos en una época de nuevas controversias: entre derecho a la expresión y derecho a la imagen; entre derecho a la expresión y derecho de autor (copyright); entre derecho a la igualdad y los valores de individuos, colectivos e instituciones (como las Iglesias), asentados en preceptos religiosos; etcétera. En todos estos conflictos actores diversos tienen algo para decir, para defender, y las redes sociales y los medios masivos son grandes campos de batalla de la significación.

 

P: ¿Cómo piensa mostrar en su informe durante Pentálogo X las interfaces entre la propuesta de esta reunión científica con los ángulos y el contenido de su presentación y los problemas planteados por sus investigaciones?

R: En mi exposición pretendo mostrar cómo el cambio de la emergencia de la época contemporánea y de la nueva mediatización y circulación del sentido afectan prácticas pedagógicas. En el marco de la dificultad que este proceso implica me interesa mostrar el interés de los alumnos, que tienen nuevas competencias, por un manejo amplio y diverso de recursos de construcción de nuevos universos de significación y colectivos a partir de nuevos valores, no sólo lúdicos.