Nesta terça-feira (27), Gustavo Said, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), apresentou, no Pentálogo do Ciseco, conferência sobre “Opinião pública, imaginário político e identidades nos protestos”, coordenada por Pedro Russi, um dos diretores do Centro Internacional de Semiótica e Comunicação. Para Said, todo imaginário é sempre político e comporta identificação. O simbólico opera e o que não está na imagem provoca a nossa imaginação. O perigo reside em dois aspectos: o belo não nos causa deslumbramento e o abjeto já não traz horror. Os protestos de 2013, foco de sua fala, provocaram um hiato político semântico e histórico, representado pela vontade incontida do cidadão de intervir.

O conferencista pontua a neurose da eleição, pautada no processo de simbolização do imaginário, que reprime o desejo. Segundo Gustavo, “O neurótico orbita em signos para tentar inferir o real. Buscam significantes porque sonham em capturar o real. A paixão compulsiva pela verdade equivale à crença apaixonada na mentira”, essa afirmação representa a ideia e a recusa de qualquer argumento ou referente do real.

A segunda conferência da manhã, também coordenada por Pedro Russi, foi de Mariano Fernandez, do Instituto Universitario Nacional de las Artes, da Argentina, sobre a pesquisa “Indivíduos, redes, multidões. Representação política e imaginários sobre a cidadania na Argentina do Século XXI”, sua pesquisa avalia os discursos de Cristina Kirchner e Mauricio Macri dentro de um governo democrático, onde deve existir um espaço público para o exercício da democracia e a relação dos líderes com a cidadania.

Em sua fala, Fernandez evidencia que a democracia é um fato recente do ponto de vista histórico na Argentina e no Brasil. Um problema político e atual é eleger líderes que não se preocupam com a população e o diálogo. Dentro da democracia representativa, um voto de protesto tende a ferir o próprio eleito, no cenário onde o cidadão elege quem o silencia.

Fake news

No período vespertino, as mesas foram coordenadas por Eloisa Klein, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Guilherme Azevedo, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) apresentou a mesa “Direito, Democracia e a “Autopoiese das Fake News”: da regulação dos sujeitos para a regulação nas (das) organizações”. O pesquisador constatou que mais da metade da informação que circula na internet está em vídeo e esse consumo ocorre predominantemente pelo celular. Em sua fala, Azevedo discute a responsabilidade nas redes sociais diante de uma "fake news": se é da rede, do veículo, de quem posta e compartilha ou do leitor.

Guilherme argumenta que as fake news não são simplesmente notícias falsas. “Algo absurdo funciona em maior velocidade justamente porque é absurdo. A verdade funciona em uma velocidade diferente”, declara ao explicar o fenômeno de compartilhamento das notícias falsas, que são até mais reproduzidas do que as verdadeiras. Outra implicação das fake news está no direito de resposta, algo utópico no Brasil na análise do pesquisador. A discussão abrange o Marco Civil da Internet, a regulamentação do WhatsApp na perspectiva do direito, a função de uma notícia falsa e a necessidade não só da checagem de dados, mas de uma pressão por regulamentação do Estado, onde as empresas identifiquem o conteúdo e os usuários quando necessário.

O trabalho de Fernanda da Escóssia,  jornalista e professora do IBMEC Rio, foi apresentado na mesa “As estratégias discursivas das “fake news” nas eleições brasileiras de 2018”, fechando as exposições da terça-feira. Um dos questionamentos feitos pela pesquisadora é se cabe atribuir a algo que é falso o nome de notícia, como diz a tradução literal de fake news – notícias falsas. Sua fala trata da compilação de mais de sessenta boatos desmentidos pela Agência Lupa e outras, abordado dentro da análise do discurso. “A notícia falsa tem um valor. Monetário, de anúncio. É dinheiro, influência e poder. A disseminação de conteúdos falsos também envolve a questão de poder”, defende. A estrutura que permite a criação dessas mensagens é também chamada de ecossistema de notícia falsa. Para a pesquisadora, as reações contra os boatos surgem da imprensa tradicional e dos novos veículos de comunicação e checagem.

Nas eleições presidenciais de 2018, esse ecossistema trabalhou não apenas para atacar os adversários, mas também na ideia de uma estratégia de campanha invencível. Apoio inexistente foi atribuído para as duas candidaturas e mobilizações gigantescas na Copa e no Carnaval foram divulgadas como atos em prol de um candidato. Outra marca do período eleitoral foi a ausência do presidente eleito nos debates. Com essa escolha, ele mudou o local natural da discussão política no período, levando da televisão para as redes sociais.

Para além das conferências

Nesse mesmo dia, a pesquisadora Solange Alboreda relatou a realização de uma oficina interativa com a comunidade de Japaratinga acerca da sua experiência cultural com índios Kalapalo. Os estudantes da rede municipal do 3° ano fundamental assistiram a um documentário produzido pela acadêmica, que demonstrava aspectos de seus rituais, costumes e hábitos de passagem da infância para a vida adulta. Solange explicou que a partir dos 13 anos os meninos da aldeia já são considerados adultos e têm, portanto, responsabilidades. As meninas devem se empenhar em atividades como agricultura e o preparo dos alimentos. A finalidade de apresentar a realidade do grupo Kalapalo era refletir sobre as curiosidades e diferenças desta fase da infância.