Além deste material, essa publicação conta também com o artigo-base da conferência de Dutra no Pentálogo X, na última semana, acerca da temática da Amazônia, sob o título “Mídia e apropriação de saberes tradicionais na Amazônia brasileira: uma estratégia discursiva” (clique AQUI).

Imagens: Manuel Dutra

 

A semiose celeste nas praias de Japaratinga

Por Manuel Dutra

Nos últimos dez anos ele chega primeiro, aliás, todos os dias ele se mostra solenemente, oferecendo ao espectador a interminável possibilidade de gerar novos sentidos a partir dos sentidos que cada participante do Pentálogo traz consigo, de suas experiências de vida e de pesquisa buscando interpretar os significados das coisas geradas pelos indivíduos e pela sociedade, num processo interminável de vida e de relações entre os humanos e, destes, com a natureza.

O sol de Japaratinga nasce entre quatro e meia e cinco da manhã, iluminando o mundão e o mundo do auditório Eliseo Verón, no hotel Albacora (nome de uma espécie de peixe pertencente à família dos atuns, que vive nas águas tropicais e subtropicais de todos os oceanos e ainda no Mar Mediterrâneo). Pois é nesse hotel com nome de peixe que logo mais começam e recomeçam as sessões em que cada grupo ou expositor individual dialoga com estudiosos do Brasil e do exterior sobre as suas observações científicas, tendo como pano de fundo a Semiótica e a Comunicação que, este ano, entre 25 e 28 de novembro, teve como temática “Comunicação, Aprendizagens e Sentidos”.

Na abundante claridade matinal interagem o homem e a natureza, com o vento e as ondas do mar chamando os pescadores para a labuta diária o que, afinal, nos interessa como pesquisadores dos significados gerados nessa interação. De um lado, um nos mostra a beleza monumental, de outro, é-nos mostrada a luta diária de quem produz sentidos e, como tal, cria as condições de sobrevivência para si e para os demais habitantes da modesta e rica Japaratinga, no litoral alagoano.

De minha parte, agradeço terem-me ouvido tentando refletir sobre os sentidos seculares produzidos sobre a Amazônia e o aprendizado que nos oferecem as “nações americanas do Máximo Rio Amazonas”, no dizer de João Daniel, a cabeça mais lúcida, dentro da lógica colonial, que habitou matas e rios do Estado do Maranhão e Grão-Pará no meado do século 18.

De Felipe Bettendorf, no meado do século 17, a Mark Harris, nos dias contemporâneos, a Amazônia foi e é palco de um sem-número de significados, tão próximos um do outro que a região é habitualmente visualizada no singular, revelando o contraste de ser uma região plural, pluralíssima, plena, sim de recursos e também plena de saberes e possibilidades de aprendizagem.

Em Mark Harris e diversos outros autores, porém, já vemos tentativas bem elaboradas de perceber outros significados da região, onde não apenas natureza/recursos existem, porém onde também há uma longa história a ser revelada, relato que começa vigorosamente a ser escrito e falado pelos assim chamados povos indígenas, ou da floresta, ou ribeirinhos, hoje buscando corajosamente ser senhores de seu próprio discurso e de sua capacidade de produzir os sentidos de suas vidas. Uma história que começou séculos antes da invasão e que está em plena revisão de seus significados.