Com o advento da realização do Pentálogo XI, o Ciseco elaborou uma série de entrevistas com os conferencistas do evento, a fim de elucidar aspectos da temática “Pandemia: sentidos em disputa”, que serão desenvolvidos nas conferências, ao longo do evento. Para encerrar o ciclo de estudos deste ano, a mesa do Ciseco no Pentálogo XI será realizada ao longo do dia 24 de novembro, no canal do Ciseco no YouTube. Os pesquisadores levarão à interlocução algumas abordagens sobre a pandemia, em convergência ao tema central. Podem ser conferidas aqui entrevistas com alguns dos pesquisadores, na ordem das conferências.

 

Eis as entrevistas.

 

Entrevista - Antônio Heberlê - Pentálogo XI

 

Ciseco - Qual a importância que tem o tema geral do Pentálogo XI, segundo o seu ponto de vista de um pesquisador da sua área de conhecimento?

Antônio Heberlê - O Ciseco como instituição dedicada à reflexão dos temas que tangenciam comunicação e semiótica não poderia se furtar de apresentar a discussão sobre um dos fatos mais relevantes dos últimos séculos, o contexto histórico da pandemia do Covid 19. Todas as áreas do conhecimento foram tocadas pelo fenômeno e inclusive a da ciência. A realização dos encontros anuais do Ciseco num lugar singular, numa praia do Nordeste brasileiro, teve que se reinventar, o que levou a uma estratégia diferenciada de reunião das ideias, via on line. Mantemos a reunião e a temática se impõe porque nada é mais relevante neste momento do ponto de vista da produção de sentidos.

Quais são os ângulos principais que o senhor vai abordar na conferência?

Na conferência tratarei da questão do pensamento lógico e do silogismo, recorrendo à história antiga para tentar compreender a existência de alguns comportamentos curiosos do nosso tempo, como a crise da verdade, as fake news dominadas pelo falso-silogismo ao ponto de se impor como um discurso imperioso e verossímil. A lógica e a semiótica de C.S.Peirce podem iluminar alguns desses caminhos para compreendermos o que aconteceu na condução do tratamento da pandemia no Brasil, por exemplo.

Decorridos 2 anos de pandemia, como o senhor avalia o desdobramento de discursos em disputas sobre a pandemia, segundo os ângulos dos estudos que o senhor realiza?

Nestes dois anos já é possível inferir alguns elementos interessantes para análise e talvez o mais importante seja estabelecer alguns crivos, o que ajuda o analista a ver esses matizes de comportamento. Justamente por isso a recorrência aos fundamentos da filosofia podem nos ajudar a ver que critérios de análise são os mais úteis para a pesquisa. Não se tem mais espaço nem tempo para ficar apenas na crítica. Temos que entender o que se passa nessa quadra da vida para que, de alguma forma nós, como analistas, colaboremos para que alguns dos fatos aterradores, como o desvalor à vida humana, jamais tornem a acontecer.

Na sua opinião, qual a contribuição deste evento para o avanço dos estudos que envolvem pandemia e comunicação?

O Pentálogo se instituiu ao longo do tempo como um dos espaços de pensamento e interrogações livres, despojadas de qualquer interesse que não fosse avançar nas reflexões sobre comunicação e semiótica. Este é o caminho e a pandemia veio confirmar da necessidade de espaços como estes para podemos avançar sem amarras.

Mencione referências de trabalhos sobre o tema pandemia e comunicação.

As entrevistas promovidas pelo Ciseco, disponíveis em seu site, constituem bons materiais para estudo e compreensão.

 

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Entrevista - Viviane Borelli (UFSM) - Pentálogo XI

 

Ciseco - Qual a importância que tem o tema geral do Pentálogo XI, segundo o seu ponto de vista de uma pesquisadora da sua área de conhecimento?

Viviane Borelli - O Ciseco se constitui em um espaço de diálogo e de construção de conhecimento muito singular que já no ano passado, tensionado pelo contexto pandêmico, organizou uma série de entrevistas sobre pandemia e comunicação sob os mais diversos olhares. Tais conversações que estão disponíveis no canal do Ciseco no Youtube (https://www.youtube.com/c/CISECO_CISECO) suscitaram questões que agora são retomadas ao problematizarmos os sentidos em disputa. Dessa forma, o Pentálogo XI cumpre um papel essencial na comunidade acadêmica ao trazer para debate tantas semioses que são produzidas, ressignificadas e postas em circulação na sociedade em midiatização.

Quais são os ângulos principais que a senhora vai abordar na conferência?

Analisada por diversos especialistas da área das Humanidades, como Comunicação, Educação, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Ciências Políticas, Direito, Jornalismo, Políticas Públicas, Semiótica, entre outras, a pandemia suscitou os mais distintos olhares interpretativos para o fenômeno. Nesse contexto, minha proposta é um olhar micro, através do qual intenciono refletir sobre conversações produzidas por distintos atores sociais acerca da pandemia por meio de observação de grupos no WhatsApp. Os compreendo como coletivos, conceito que tomo como inspiração de Verón (1997, p. 15), para quem a produção dos coletivos gera quadros identitários que agrupam os atores individuais.

Olhar para práticas realizadas no âmbito das nossas relações interpessoais trata-se de um desafio a ser enfrentado pelos estudos de midiatização e de circulação. Essas conversações integram a ampla gama de conversações sociais em torno da pandemia e que foram produzidas das mais distintas formas, como comunicados institucionais de agências de referência mundial (ONU, institutos de pesquisa, etc), sanitários (agências reguladoras e orientadoras), governamentais (decretos, orientações, etc), científicos, midiáticos, entre outros.

Decorridos 2 anos de pandemia, como a senhora avalia o desdobramento de discursos em disputas sobre a pandemia, segundo os ângulos dos estudos que a senhora realiza?

Há tantos discursos em disputa que fica difícil tentar fazer uma sistematização. Instituições, governos, mídias e a sociedade como um todo - cada um a seu modo - , produziram enunciações na direção de tentar explicar o contexto pandêmico. A polarização, o incivismo, a negação das informações científicas, a proliferação de informações falsas, os interesses econômicos e políticos ganharam novas e ameaçadoras roupagens, agravando o caos em que estamos mergulhados, com tantas vidas ceifadas e sequelas a serem tratadas, estudadas e ainda compreendidas. Especificamente no âmbito das trocas de mensagens diretas, em grupos no WhatsApp observados, tais disputas de sentidos repercutiram em divergências, afastamentos, silenciamentos, mas também em cooperação e afetos.

Ao longo desse período de quase dois anos, o tema da pandemia disputou espaço nas agendas pessoais, pública e dos grupos com outros temas, em intensidade variável e com a geração de múltiplas disputas de sentidos. Com o avanço da vacinação, outros temas voltaram à tona e foram postos na agenda global questões relativas ao clima, à exploração econômica, ao desenvolvimento selvagem do capitalismo, à emergência de governos fascistas, às ameaças à democracia, entre outros tantos que precisam ser enfrentados.

Como menciona o sociólogo Edgar Morin, tão lúcido no alto de seus 100 anos, a crise é planetária, social, humana e da civilização, pois todos estamos afetados e tais afetações são características da própria condição humana

Na sua opinião, qual a contribuição deste evento para o avanço dos estudos que envolvem pandemia e comunicação?

O Ciseco contribui com os estudos realizados no campo da comunicação e da semiótica, mostrando a complexidade de sentidos construídos em torno da pandemia. Diante da impossibilidade de realização do encontro presencial, em Japaratinga, Alagoas, o Pentálogo XI constitui, além do debate em lives, um corpo de saber que ajuda a construir a memória sobre a pandemia e que poderá ser acessada por estudantes, pesquisadores e analistas em momentos posteriores da sua realização.

Mencione referências de trabalhos sobre o tema pandemia e comunicação.

Há muitos, mas vou citar aqui três publicações coletivas:

- O próprio livro a ser lançado pelo Ciseco, no dia 30:

PANDEMIA E PRODUÇÃO DE SENTIDOS: relatos, diálogos e discursos. Pedro Russi, Laura Guimarães Corrêa, Inesita Soares de Araújo, Antônio Heberlê, Antônio Fausto Neto, Aline Weschenfelder (orgs.). João Pessoa, EDUEPB, 2021

- Dois volumes publicados pela Universidade Nova de Lisboa:

Perspectivas multidisciplinares da Comunicação em contexto de Pandemia. Vol 1e 2 (Coord. Francisco Rui Cádima& Ivone Ferreira) . Lisboa, Universidade Nova de Lisboa: Coleção ICNOVA, 2021. Disponível em: https://colecaoicnova.fcsh.unl.pt/index.php/icnova/issue/view/1

Livro organizado pelo CIM – UNR:

Valdettaro Sandra (org.). Conversaciones en PanMedia, Rosario: UNR Editora, 2020.

 

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Entrevista - Antônio Fausto Neto - Pentálogo XI

 

Qual a importância que tem o tema geral do Pentálogo XI, segundo o seu ponto de vista de um pesquisador da sua área de conhecimento?

O tema da pandemia é central para os estudos que envolvem as condições de produção, circulação e reconhecimento de discursos uma vez que uma das dimensões que faz o vírus existir, ter configurações e ressonâncias no âmbito social, é justamente a possibilidade dele ter modos de existência, isto é, ganhar contornos, evocar significados, operar segundo materialidades que são engendradas por operações que lhe dão evocações, testemunhalidades de suas ocorrências e de suas ressonâncias. Em suma, constituem-lhe como um fenômeno de comunicação tanto do ponto de vista individual, quanto em termos sociais. A isso tudo correspondem processos de apropriações que são realizados pela próprias atividades de produzir sentidos, aquelas enunciadas por uma cada de nós e, particularmente, pelas operações desenvolvidas por saberes institucionais, que dão ao vírus nomeação, descrição do seu modo de ser e de suas manifestações, muitas das quais ingressam no rol de significações e de tematizações, que passam a ser disputadas, por exemplo, por saberes institucionais. Então, parece-nos que, a exemplo de vários trabalhos de leituras que a sociedade e as instituições fazem do vírus à pandemia, elegê-lo como uma questão central para uma instituição que analisa fenômenos comunicacionais, como o Ciseco, é entrar na roda do debate, das reflexões e da oferta de pistas sobre uma problemática que apresenta muitos e complexos desdobramentos no terreno da semiosis social.

Quais os aspectos principais que o senhor vai abordar na sua conferência?

De alguma forma, examinar algumas manifestações de leituras sobre a produção discursiva (existência e funcionamentos do vírus), segundo lógicas e modalidades de enunciação, que emanam de atores sociais. Digamos, assim, que se situam no âmbito da problemática do reconhecimento (recepção). Para tanto, vou apresentar como o vírus ganha "modos de existência" no âmbito dos folhetos da literatura de cordel, produzidos pelo próprio "homem ordinário" ou, naqueles elaborados por instituições (sanitárias, educativas, políticas etc.), que se apropriam de lógicas e operações desta modalidade de enunciação. A ideia é mostrar como certos aspectos do cordel, como modalidade de comunicação e de exteriorização de imaginários populares, são tomados como condição de produção de discursos sociais de várias naturezas na "disputa de sentidos" que se manifestam sobre o vírus e sua construção socio-significacional. Trata-se de uma problemática que está no centro das estratégias através das quais sentidos se engendram, segundo diferentes operações, nas quais discursos sociais se constituem em condições de produção para dar ao vírus modos de existência, enquanto mundos possíveis.

Decorridos 2 anos de pandemia, como o senhor avalia o desdobramento de discursos em disputas sobre a pandemia, segundo os ângulos dos estudos que o senhor realiza?

Esta é uma problemática que certamente vai se desdobrar em vários momentos posteriores. Partimos de um cenário no qual o vírus esteve apropriado por intensa atividade discursiva, segundo dinâmicas de interpenetrações de discursos institucionais. Uma das tendências é justamente construir e desenvolver processos observacionais que possam captar a emergência de estratégias que os sistemas sociais vão engendrar sobre o vírus e que, possivelmente, terão a ver com a intensificação das lutas (epistêmicas, políticas etc.) a serem travadas em torno do vírus, produzindo leituras, pontos de vista, dando-lhe novos "modos de existência". Em suma, ele vai sendo transformado em novos objetos de uma luta de sentidos que está apenas no seu início. Assim sendo, examinar os desafios que o vírus faz ao território da pesquisa, seguindo-o, mapeando suas trajetórias que necessariamente não são conhecidas, a priori...

Na sua opinião, qual a contribuição deste evento para o avanço dos estudos que envolvem pandemia e comunicação?

Se entendemos o lugar da instituição científica (como o Ciseco) enquanto um "lugar de observação", entendemos que o Pentálogo permitiria uma reflexão em ato sobre esta problemática, ao tematizar questões, formulando cenários e hipóteses sobre suas manifestações, bem como organizando programas de ações segundo a sensibilidade e interesses dos que nele participam, oferecendo valiosas contribuições sobre estudos deste porte. Nestas condições, o Ciseco já ensejou 3 produtos que estão colocados em circuitos de leituras, consultas etc., como as entrevistas que realizamos em torno da problemática da pandemia e produção de sentidos; o evento que agora se realiza, tematizando a questão dos sentidos em disputa; e o livro que vai ser lançado durante este evento, no qual muitas das entrevistas que já estão no canal do Ciseco no YouTube, serão apresentadas como artigos, constituindo um dossiê que vai além da natureza de um livro. Trata-se de um dossiê - quase mil páginas - que oferece pistas muito valiosas sobre a problemática do vírus, na sua atualidade, e seus possíveis desdobramentos como objeto de futuros estudos.

Mencione referências de trabalhos sobre o tema pandemia e comunicação.

Há uma profusão de trabalhos que resultam de fóruns de estudos, pesquisas etc. Mas ficaria, pontualmente, em duas referências que me parecem pertinentes no âmbito de reflexões sobre a pandemia em termos de questão comunicacional.

1. O livro já publicado pelo Centro Internacional de Midiatização - CIM, da Universidade de Rosário (Argentina)

Valdettaro, Sandra (org.). Conversaciones en PanMedia, Rosario: UNR Editora, 2020

2. O livro do último Pentálogo, em lançamento pela Editora da UEPb

Pandemia e produção de sentidos: relatos, diálogos e discursos. Pedro Russi, Laura Guimarães Corrêa, Inesita Soares de Araújo, Antônio Heberlê, Antônio Fausto Neto, Aline Weschenfelder (orgs.). João Pessoa, EDUEPB, 2021

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“Acho que os dez anos do Pentálogo traduzem a força proativa da pesquisa universitária conduzida por mestres cientificamente inquietos, mas institucionalmente persistentes, como é o seu caso. O CISECO surfa vitorioso nas dificuldades. Vai continuar ainda que seja grande a onda adversa para a educação e a cultura no momento.”

Muniz Sodré - UFRJ