Tárcila Cabral e Beatriz Carvalho

A nona edição do Pentálogo do Centro Internacional de Semiótica e Comunicação (Ciseco) chegou ao quarto dia de debates com discussões sobre midiatização e suas tecnologias e divulgação científica. A primeira conferência do dia foi proferida por  Gastón Cingolani, pesquisador da Universidade Nacional de las Artes, argumentado que discutiu temas como a conceitualização da democracia em aspectos de igualdade, convivência, representatividade e liberdade. Ele indicou que a democracia moderna constrói hoje um espetáculo centralizado, em que as representações costumam seguir aspectos da maioria. 

O acadêmico citou como exemplo um formato específico de programa televisivo com foco no comportamento, estilo de vida e entretenimento, o que tomou o segmento. Este modelo passou a ser adotado em outras temáticas sendo utilizado inclusive para abordar questões de teor político, porém com apresentadores que não demandam de conhecimento para o conteúdo. Cingolani indicou que  nesse segmento, com o uso das tecnologias e redes sociais os usuários na verdade não são livres, pois o sistema os limita. Os portais de notícias constroem um coro que os motivam a clicar nas notícias mais acessadas, compartilhadas, com mais imagens, estas são superfícies que induzem e redirecionam.

Uberização da Vida

Partindo para os diálogos em saúde no processo de ‘uberização’ da vida, Wilson Borges falou sobre a oligopolização de poder. Ele refletiu sobre como se deve pensar a democracia e o seu exercício, uma vez que há um quadro crescente de concentração dos meios massivos de comunicação o que conduz a um controle deste aglomerado. A proposta levantada para uma rede de saúde democrática é a criação de um plano de saúde popular, como uma estratégia ao sistema que se apresenta em colapso. 

O termo uberização vem fazer um paralelo através do conceito de possibilitar acesso a um serviço de qualidade, mas com um preço possível. O pesquisador da FioCruz citou que segundo o tratado político sobre o direito Natural do Homem de John Locke, sua teoria dá direito a vida, liberdade e propriedade. Ou seja, desde os primórdios existe uma ideologia de liberdade para empreender. A conjuntura neste caso permite que os cuidados e custos sejam equivalentes.

Ciência e Circulação discursiva

Coordenada por Ricardo Duarte, da Universidade Federal de Viçosa, a mesa “Cientista e Jornalista, a dupla hélice para compartilhar fazeres e democratizar saberes”, realizada por Carlos Alberto Santos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, foi norteada pela ideia de fazer jornalismo em páginas de boa ciência de letras compreensíveis. Para o pesquisador, há dificuldade no processo de popularização da ciência e do fazer da divulgação científica. De acordo com Carlos, “O que o cientista pensa do seu trabalho perde-se muito quando ele faz a exposição para a pessoa que não domina o corpo de conhecimento daquela área”. As revistas populares sobre ciência frequentemente apresentam informações erradas do ponto de vista científico, o que também gera preocupação.

Em sua conferência, Santos defendeu a aproximação entre jornalistas e cientistas na realização desse trabalho, buscando combater a pseudociência e frear sua divulgação, que vem ganhando espaço. Outro problema identificado por ele é a linguagem técnica dentro da explicação desses fenômenos: é preciso utilizar uma abordagem eficiente. “A equipe de jornalistas faz a mediação. Muitos cientistas não conseguem escrever para um grande público”, afirmou.

Finalizando a programação do dia, Suzanne Chevigné, do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), apresentou a mesa “Mediatização e história da circulação de discursos sobre a ciência na França”, coordenada por Gastón Cingolani, da Universidad Nacional de las Artes, na Argentina. A pesquisadora identifica que as instituições científicas estão perdendo o controle do discurso ao longo dos anos, em processos que ocorrem desde o século XIX, colocando-a em descrédito ou pontuando mentiras e crenças como ciência. Dentre os ataques sofridos pelas instituições, estão as fake news, veículos falsos e a fraude. O discurso e a cobertura jornalística sobre ciência estão mudando, essas novas formas impactam sociedades democráticas.