Dando seguimento à programação do Pentálogo do Centro Internacional de Semiótica e Comunicação (Ciseco), o evento promoveu o VII colóquio Semiótica das Mídias, que ocorre tradicionalmente no 3° dia de evento. Mais de 70 trabalhos foram inscritos e trouxeram discussões expressivas nesta quarta-feira, dia 28, buscando resgatar temáticas históricas ou parafrasear conteúdos atuais junto ao  tema “Midiatização e reconfigurações da democracia representativa”. Foram sete grupos de trabalho e a equipe de cobertura do evento acompanhou algumas apresentações das diversas temáticas.

Fazendo alusão à concepção dos Sentidos de produção e reconhecimento, o GT6 foi o primeiro a iniciar suas apresentações. Em análise estiveram os conteúdos de jornais no formato web, que atualmente ainda replicam comportamentos específicos de programas televisivos. Foram discutidos os produtos gerados a partir de informações sensacionalistas e ambíguas, sendo exemplificados sites como o “Pensa Brasil” e “Jornal do País”. Este contexto leva a uma preocupação mais constante pela apuração dos fatos, o chamado fact-checking. Os debates seguiram com temáticas de midiatização que promovem reflexões acerca da influência dos discursos no público televisivo, em específico num estudo acerca do suicídio e a série dos 13 Reasons Why. Esses debates propõem salientar que a linguagem de hoje pode ativar uma interação positiva ou negativa dependendo da forma como este conteúdo é assimilado.

O olhar da midiatização se preocupa igualmente em analisar aspectos de prevenção a saúde nas redes sociais através de campanhas. A apresentação de Inesita Araújo, do GT1, abordou a linguagem adotada em defesa dos macacos, no contexto da febre amarela na Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz). A campanha iniciada em 2017 incluiu a tag #ACulpaNãoéDoMacaco como uma ferramenta de busca que deu suporte a metodologia. Numa referência aos processos de midiatização há, além disso, discussões na sala sobre ensejos políticos e populares nas redes sociais e apresentações que fortalecem a  comunicação em portais ambientais.

Mídia e semiótica

Partindo para um discurso com ênfase na semiótica e semiologia o GT7 argumentou sobre a violência dentro dos meios de comunicação, numa abordagem de reconfiguração da participação dos canais. A narrativa deste complexo é explicada como uma estrutura que tradicionalmente emprega personagens os vilanizando e tratando-os como inimigos da sociedade com o intuito de legitimar os confrontos e abusos que as grandes cidades vivem. “Hoje muito se fala acerca da cultura do ódio, porém este público se esquece que este discurso foi iniciado há tempos com a prática desta fala agressiva em jornais sensacionalistas e policiais”, explica o mestre Marcelo Machado.

No mesmo GT, questões políticas foram evidenciadas similarmente, dialogando sobre os objetivos e metodologias do discurso populista de Ernesto Geisel. O formato pontuou aspectos de seu discurso pacificador e do surgimento do relacionamento do Brasil com outros países, o que possibilitou ao presidente tornar-se um sujeito midiático e carismático. O líder prometia um vislumbre do teor democrático, porém silenciando pessoas que simbolizavam uma ameaça a seu governo.

Aspectos antropológicos e de sociabilidade

Articulando a temática dos Processos de sociabilidade, o GT4 evidenciou pontos midiáticos e antropológicos como a construção da subjetividade e do controle dos algoritmos nas redes sociais. Esta pesquisa trouxe uma abordagem que propõe repensar a cultura digital e analisar as ligações criadas e concluídas neste espaço, além de lidar com os sentimentos e lutos da relação.

Em outra apresentação, Fernanda da Escóssia narrou a construção do projeto Invisíveis, um trabalho com bases antropológicas acerca de como as pessoas sem documentos oficiais são entendidas na sociedade. “É importante pontuar como o processo de obtenção da certidão de nascimento traz concepções de identidade e pertencimento, então para que serve um documento?” cita a doutoranda. Os discursos que se seguem demonstram realidades transversais, pois atravessam camadas de sentido, o que confirma uma ideia de cidadania na busca pelo sonhado reconhecimento na sociedade.

Os processos de sociabilidade e sentidos são enquadrados também em pesquisas do GT5, sobre a midiatização numa análise dos discursos em saúde. Voltados as campanhas de amamentação, um dos trabalhos foca na comunicação pública e sua eficiência no cumprimento deste objetivo no ano de 2018. Há a mensuração de dados em matérias, notas e dos resultados deste empenho na rede de saúde. O foco democrático é outra abordagem da sala que, pauta discussões sobre a hibridização e técnicas comunicacionais buscando entender a repercussão de anúncios e personagens dos canais do Youtube.

Discursos e circulação

No GT3: Análise de discursos, jornalismo, publicidade e audiovisual, a programação exemplificou modelos de trabalho em assessoria como a agência JR de comunicação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Foca News. O propósito dessa agência é gerar conhecimento e fazer com que o espaço obtenha uma dinâmica estrutural de implantar uma comunicação contínua, mesmo com a mudança dos integrantes a cada término do período. No mesmo grupo outra análise segue uma linha embasada na semiótica e comunicação, abordando uma teoria peirceana do saber. O resgate do teórico é enfatizado na forma de retratar a realidade relativizando-o com o jornalismo e religiosidade. A apresentação de Marcos Reche lembra que é equivocado pensar numa matriz que é metaforicamente pragmática, pois semiose diz que todos são base de referência e este é o nível do diálogo proposto, sem segmentar ou dividir em camadas.

Estudos observados no colóquio repercutem, também, aspectos da Internet e sentidos de circulação. A análise de Marcelo Sousa no GT2 propôs uma mensuração e verificação do uso das redes sociais durante as eleições de 2018.  O acadêmico explica que este discurso simula que há um pequeno avanço no segmento digital e nas redes, mas há um peso no modo de fazer esta gestão. Através da reflexão bibliográfica e estudos de documentos oficiais é revelado que esta perspectiva de ideologia política é tênue, e pode acabar em determinado momento.

No mesmo GT, também se abordou o sentido da circulação nos mecanismos de linguagem federais como o do Governo Eletrônico - Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac), por Marco Tessarotto. Em suma, o estudo repensa as prioridades dos grupos quilombolas neste debate digital, embasado num contexto ainda gradativo desta construção, pois o uso das ferramentas não é bem resolvido. A discussão conclui que, é necessário um meio de espelho para que a realidade tecnológica possibilite programas eficientes de inclusão neste sentido.

Fotos Jônatas Oliveira